Abril: luzes e sombras...

Foi um choque muito positivo para os nossos emigrantes verem nos países de acolhimento o nome da sua terra alcandorado às primeiras páginas dos jornais e abertura de noticiários das TV,s. Era uma nova Primavera, era o dealbar de uma Nova Era que prometia romper com 48 anos de ditadura feroz e castradora, incapaz de solucionar o problema colonial e de gerar condições favoráveis a uma democratização.
George Mustaki, um conceituado cantor francês de ascendência grega rejubilou e até fez uma canção dedicada a esta Primavera. No Brasil Chico Buarque fez o mesmo. Eram sinais de saudação à Revolução dos Cravos e um penhor de gratidão aos capitães de Abril que fizeram o que se impunha pois não havia sinais de resposta por parte de um poder imobilista que tinha o suporte de "brigadas do reumático" que nada de original iam trazendo e queriam a perpetuação da guerra "ad eternum", com os custos sociais, humanos e financeiros pesadíssimos e cada vez mais insustentáveis. Era impossível manter sem fim à vista este cenário que se iria agravar com a provável queda da Guiné.
Havia júbilo no ar. Contudo, começaram os excessos e os extremismos sempre perniciosos. O próprio escritor Jean Paul Sartre, ao vir a Lisboa no verão quente de 75, não apreciou algumas facetas pouco democráticas e manifestou isso publicamente.
A maior lição de democracia e de visão globalizante recebi-a de um casal de estudantes mexicanos a quem dei boleia numa viagem de Santarém até Lisboa. Eram estudantes finalistas de História e queriam colher dados neste laboratório original para uma hipotética tese de licenciatura. Pediram-me até que lhes enviasse para a cidade do México recortes de jornais e revistas sobre esta emblemática Revolução dos Cravos que tanto os emocionara. O que mais me surpreendeu foi a sua visão do mundo. Reconheciam que quer a CIA quer o KGB como braços armados das superpotências só estavam cá para defesa dos seus interesses e não dos portugueses, como povo.
E falaram-me dos casos do Chile, do Brasil, que conheciam bem e onde João Goulart fora deposto pelos militares porque proibiu a saída da totalidade dos lucros das grandes empresas (queria que fossem reinvestidos 90% no próprio Brasil) e foi logo apodado de "comunista" sendo alvo de uma estratégia que colocou os militares no poder com a ajuda de Frank Carlucci e da CIA.
Sabiam tudo sobre o "assassinato" da economia chilena e do aproveitamento da crise económica para coarctar à nascença um regime que prometia liberdade e regalias populares dentro de um quadro democrático. Enfim, este casal mexicano foi algo que me emocionou e deixou marcas, pois correspondi-me durante alguns tempos com eles e falei sobre a evolução desta promissora__ mas com luzes e sombras também__ Revolução dos Cravos.

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